24.4.07

Conformismo vs. Autonomia

Música, roupa, leitura, aspecto, ginásio, o que o ser humano faz… tudo isto domina o nosso dia-a-dia. Somos "obrigados" a seguir as massas e esquecemo-nos de procurar em nós mesmos o que realmente queremos, o que realmente ansiamos. Tentar fugir da realidade não ajuda, nem nos leva a lugar algum.


Quantas vezes uma pessoa se vê a coagir com os demais? Quantas vezes se entrega ao conformismo? O senso comum tende a imitar os modelos sociais, sejam eles políticos, artísticos, filosóficos. Onde tem estado perdida a Humanidade? Será que ainda merecemos este “H”? Os líderes influenciam de tal modo as nossas mentes, que um terrível poder deixa-se cair sobre nós, que nos esquecemos dos princípios básicos que fizeram com que nascêssemos e estivéssemos aqui hoje.
A publicidade é um desses grandes “líderes” sociais. Ter a plena consciência de que todas as acções humanas são influenciadas por algo que se vê ou se ouve algures, ofende as gigantescas capacidades de qualquer ser humano. Pode-se até adquirir comportamentos equilibrados, ponderados, criteriosos, mas será suficientemente imparcial aos genes inscritos no organismo? Estar-se-á isento de toda e qualquer influenciar, seja ela boa ou má, mas estranha ao ser?
Ser-se capaz de desenvolver as aptidões mais pessoais, sem nunca se deixar influenciar pelas normas e poder dos grupos, é um dom que reside em qualquer ser humano. No entanto, e infelizmente, não há nada que se faça sem uma representação, por mais pequena que seja – uma bela reprodução de uma cena que os olhos mais ingénuos viram.

“O conformismo tem sido comprovado através de algumas investigações. Uma experiência famosa, de Stanley Milgram, mostra, de forma assustadora, o poder do conformismo aliado à falta de maturidade moral. Nesta experiência, as pessoas investigadas foram instruídas no sentido de "seguirem exactamente as ordens" dadas por um investigador científico. Foi-lhes dito que iriam dar uma série de choques eléctricos fortes a uma "vítima" inocente que se encontrava numa sala ao lado da sua. As pessoas investigadas podiam ouvir a "vítima" gritar assustada cada vez que premiam o botão com a designação de "alta voltagem". (Claro que, na realidade, a suposta vítima fazia parte da experiência e não estava, efectivamente, ligada à corrente eléctrica. Mas isso, os sujeitos investigados não sabiam.) Apesar dos gritos de angústia e dos pedidos da "vítima", o cientista insistia para que a pessoa investigada continuasse a aumentar a voltagem até atingir 450 volts. O painel de comando mostrava 30 níveis de voltagem, de 15 a 450 volts, e tinha inscritos avisos como "Perigo" ou "Choque violento". Os sujeitos investigados tinham observado a "vítima" a ser amarrada à cadeira eléctrica e podiam ouvir claramente os seus gritos. No entanto, investigados um a um, um total de 65% dos sujeitos estavam dispostos a administrar o máximo de 450 volts. Ou seja, quase dois terços dos sujeitos estavam dispostos a correr o risco de causar a morte de outra pessoa, sob a autoridade do cientista.”
in “A Aldeia”

Desconheço a credibilidade desta informação e não posso afirmar que seja fidedigna, mas não me surpreende que seja verdade.

O ser humano conseguiu, em tão pouco tempo – se compararmos a nossa estadia na Terra com os dinossauros, que cá viveram muito mais tempo do que nós -, sucumbir ao mais ridículo estar do seu ser. Um indivíduo com uma vida considerada normal para a maioria da sociedade aparenta sempre algum indício da sua passagem pela Terra. Cada um é a sua própria cultura, a sociedade em que vive, as cidades que pisa, a música que ouve, o que come, o que veste e, principalmente, o que faz ou diz.

“Caímos tão fundo que atrever-se a proclamar aquilo que é óbvio se transformou em dever de todo o ser inteligente.”
by Georges Orwell

O homem distingue-se de qualquer outro ser vivo pela consciência que tem dos seus actos, mas tem ele consciência disso? Porque se deixa levar pelos dogmas das massas e toma-o como um dever, uma obrigação? É fruto de uma lenta metamorfose – talvez não tão lenta – e usufrui da inteligência como que se esta fosse mais um processo de atingir os seus objectivos. Instintivamente, o ser humano luta pelo que mais deseja, mas em que ponto se separa o seu egocentrismo do conformismo?
A autonomia está intimamente ligada à consciência e não será ela a responsável pelo egocentrismo de que a humanidade (lembro que não merecemos o “h” maiúsculo) padece? A demarcação dos limites do egocentrismo é esquecida e é-se levado a um puro altruísmo dogmático, que faz com que se esqueça do próprio ser. Mas se o indivíduo só se preocupa consigo mesmo e tenta seguir todas as modas, não estará ele a ser mais uma vítima do conformismo?
Quero com isto mostrar que, apesar de termos a mais bela consciência do facto, não conseguimos escapar às teias do conformismo e não existe nenhuma acção que se separe da realidade – o mais puro conformismo!!!


Um conceituado psicólogo americano (que a sua nacionalidade não influencie ninguém), de seu nome Lawrence Kohlberg, classificou o desenvolvimento moral em 6 estádios: de um nível máximo de egocentrismo (e dizem que também máximo de conformismo) a um extremo altruísmo (e possivelmente autonomia). Segundo Kohlberg, o adulto encontra dificuldades em atingir o nível máximo da moralidade, mas será este nível o extremo da autonomia humana? Não será antes o derradeiro conformismo no seu estado mais genuíno?
As pessoas que realmente atingem esse nível guiam-se pelos próprios princípios éticos universal e intemporalmente ou limitam-se a ser submissas à aprovação de uma entidade superior que julgam existir? Será que se deixam conduzir pela ideia de que existe realmente um (ou mais) Deus? Serão independentes de qualquer influência social ou estarão simplesmente a criar mais uma massa, a formarem-se líderes de mais um grupo? E se estiverem, pode-se considerá-los autónomos ou conformistas?

"Eis o verdadeiro centro do problema. O problema que irá continuar mesmo quando eu e o Juiz Douglas já não pudermos falar. Trata-se do eterno conflito entre o bem e o mal. Estes são os dois princípios que se enfrentam desde o princípio dos tempos. E continuarão em luta. O primeiro é o direito comum da humanidade e o outro é o direito dos poderosos e dos reis. É o mesmo princípio, qualquer que seja a forma em que se manifeste - quer venha de um rei que quer dominar o povo, quer venha de uma raça de homens que quer escravizar outra raça, é sempre o mesmo princípio tirânico. (…) A escravatura, eu sei que ela existe e existirá por muito tempo. Mas digo que fortalecê-la na lei, alargá-la e perpetuá-la é um erro. Temos de resistir-lhe por todas as formas, temos de resistir-lhe como a um mal, com a ideia firme de que a escravatura tem de ter e terá um fim. (…) Aqueles que negam a liberdade a outros não a merecem para si próprios e, perante um Deus justo não a conservarão por muito tempo."
by Abraham Lincoln
Abraham Lincoln foi o primeiro presidente do Partido Republicano dos Estados Unidos da América e foi considerado uma dessas entendidades.
Uma opulência de questões retóricas que a humanidade tem vindo a responder sem sequer ter a noção de tal. A meu ver, a nossa espécie tem vindo a percorrer todos esses estádios ao longo da sua permanência na Terra. Talvez já seja tarde para remodelar as mentes mais influenciáveis e fazer com que nem as mais preponderáveis se deixem dominar pelo senso comum. Cabe a cada indivíduo, de sua plena consciência, agir de tal modo.

Se com estas palavras consegui atingir-vos, então deixem-me que vos diga que acabaram de se deixar influenciar por alguém que não tem credibilidade alguma.

"O entendimento do que digo cabe aos que a minha pessoa desconhecem, aos que ocultam a imagem exterior. Boa noite!"

6 comments:

Nazione said...

Deixa-me dizer-te que a informação dos choques é completamente verdade, a experiência foi feita...

Nazione said...

Ah! também há mais experiências do genero, como aquela de um grupo em que só uma pessoa não sabia o que se passava, os membros do grupo a olhar para um quadrado diziam que era um circulo e essa pessoa apesar de ver um quadrado acabava sempre por dizer que era um circulo...

Lucífera said...

Obrigada pela informação cedida e por seres o único que se dá ao trabalho de ler isto, eheh.

Paulo Montenegro said...

Se mudasses o tipo de letra para Verdana e aumentasses um pouco o tamanho, eu também lia...;)

Lucífera said...

Ah bom, só vi agora. Li primeiro o outro.
Sim, para a próxima penso nisso, mas, sinceramente, quem gosta de ler isto mesmo tem de ser capaz de se dar ao trabalho de ler nestas condições.
Quem não tem paciência para isso, então é porque acha que nem vale a pena...digo eu, que não entendo nada disto...

Anonymous said...

Não concordo muito com esse dito americano, pois duvido que um estado egocêntrico leve a conformismo.
O que quero dizer é que uma pessoa egocêntrica terá mais possibilidades para pensar por ela própria do que o contrário. Isto pelo menos é o que eu penso.
Ah! E que tu não tinhas credibilidade nenhuma acho que já toda a gente sabia hehehe.

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